Publicado em 17.05.2020 - Categoria: Bem-estar, Esporte, Fisioterapia, Novidades, Saúde

Tornozeleira x Botinha de esparadrapo – Qual a melhor estratégia para prevenção?

Otimizando a prevenção

Entorse de tornozelo

As lesões no ligamento do tornozelo são responsáveis ​​por 15% de todas as lesões esportivas, e 85% delas envolvem o complexo ligamentar lateral do tornozelo (1). Movimentos esportivos, como frenagem brusca, mudança de direção e pulo, geralmente forçam o tornozelo à flexão plantar e inversão (combinação de: ponta do pé para baixo e “virar” o tornozelo) essa posição deixa o tornozelo mais susceptível ao mecanismo comum para a entorse lateral do tornozelo (2).

Entorses recorrentes

Está bem documentado que os atletas que já sofreram entorse de tornozelo têm maior probabilidade de re-lesão, entorses recorrentes podem resultar em incapacidade funcional e levar a dor ou instabilidade crônica em 20-50% desses casos (3). Esse risco aumentado de lesão após uma entorse inicial no tornozelo geralmente é causado por um comprometimento neuromuscular no tornozelo devido a trauma dos mecanorreceptores (receptor sensorial que responde a pressão ou outro estímulo mecânico) dos ligamentos e da musculatura (3).

Prevenção

A alta incidência de entorse de tornozelo, o ônus econômico associado ao tratamento, o tempo de afastamento dos treinos e jogos e as possíveis conseqüências crônicas negativas exigem a adoção de medidas preventivas eficazes. (2,3)

Estratégias Preventivas

Atualmente na literatura pode-se concluir que uso da tornozeleira, taping (“botinha de tornozelo”) e treinamento neuromuscular são estratégias eficazes para a prevenção de recorrências de entorse de tornozelo. (3)

Proteção Externa – Tape (“botinha de esparadrapo”) ou Tornozeleira

Todo atleta já se perguntou um dia: o que é melhor usar, tornozeleira ou a “botinha de esparadrapo”?

A “ botinha de esparadrapo” consiste em uma forma de proteção externa feita através de bandagens não elásticas (Tape), que envolvem o tornozelo de maneira a favorecer a estabilização anatômica deste. Aplicação dessa técnica exige conhecimento técnico, para não “prender” demais a articulação prejudicando a circulação e função local. Demanda tempo para realizar e, além de ter um custo mais alto, já que não se pode reutilizar. O uso desse método reduz em 2-4x a entorse de tornozelo quando comparado com pessoas que não fazem nenhum tipo de intervenção preventiva (3).

Já a tornozeleira também é uma forma de proteção externa do tornozelo, porém com a vantagem de ser reutilizável e de fácil colocação.

Estas são consideradas eficazes apenas para a subpopulação de atletas que já sofreram entorses anteriormente, sugerindo que são eficazes apenas para a prevenção para entorses recorrentes de tornozelo (3).

O que sabemos, baseado em evidências científicas, é que ambas as formas possuem eficácia preventiva similares, principalmente para aqueles praticantes de atividades esportivas que já sofreram entorses anteriormente (3,5).

Mecanismo de ação da proteção externa

Dada a etiologia das lesões no tornozelo, acredita-se, historicamente, que a proteção externa que oferece a melhor restrição mecânica possui eficácia superior na prevenção de lesões no tornozelo. No entanto, com base nos resultados de estudos clínicos e biomecânicos, é mais provável que as proteções externas atuem primariamente apoiando a função neuromuscular prejudicada após uma entorse de tornozelo do que restringindo a amplitude de movimento do tornozelo (3).

Mas e ai, qual dos dois usar?

A resposta é: depende da escolha pessoal do atleta e com base em usabilidade prática e custos (5). Embora ainda não esteja claro qual método profilático externo é superior do ponto de vista preventivo, a tornozeleira é sem dúvida a opção mais barata (3).

Porém, na minha opinião, seria interessante o atleta que nunca teve lesão de tornozelo usar preferencialmente a “botinha de tornozelo” e se este já sofrera uma entorse, passar a usar a tornozeleira como forma de prevenção.

Kinesiotape

O kinesiotape (bandagem elástica funcional) também pode ter um efeito preventivo em atletas que já sofreram um entorse lateral devido a seus efeitos no controle postural (5).

Treino Neuromuscular/proprioceptivo/equilibrio

De longe, a maioria dos estudos relatados sobre prevenção de lesões de entorse de tornozelo envolvem treinamento neuromuscular, propriocepção e equilíbrio, apresentando reduções das taxas de entorse de tornozelo (3). A influência positiva deste tipo de treinamento preventivo se dá não somente para as novas lesões como, também, para lesões recorrentes (5).

Vale ressaltar que, com base nas evidências disponíveis no momento, são necessárias entre 8 e 10 semanas para que programas de treinamento mais intensivos alcancem um efeito positivo (3). Logo o treino preventivo deve ser feito por longo período.

Otimizando a Prevenção

O atleta que nunca teve uma entorse de tornozelo e, principalmente, aquele com histórico desta lesão podem se beneficiar do efeito preventivo imediato do uso de proteção externa, associado a melhora da função neuromuscular protetora proveniente do treinamento proprioceptivo e de equilíbrio, diminuindo assim o risco de uma nova lesão ou a recorrência desta.

Conclusão

Pode-se concluir, na literatura atual, que, apesar das diferentes das vias preventivas, a combinação do uso de kinesiotape, proteção externa (tornozeleira e “botinha de esparadrapo”) e treinamento neuromuscular está associada a uma redução de aproximadamente 50% no risco de recorrência de entorse de tornozelo. (3)

Referência:

1-GARRICK, James G. The frequency of injury, mechanism of injury, and epidemiology of ankle sprains. The American journal of sports medicine, v. 5, n. 6, p. 241-242, 1977.

2-WILLEFORD, Kristin; STANEK, Justin M.; MCLODA, Todd A. Collegiate Football Players’ Ankle Range of Motion and Dynamic Balance in Braced and Self-Adherent–Taped Conditions. Journal of athletic training, v. 53, n. 1, p. 66-71, 2018.

3- VERHAGEN, E. A. L. M.; BAY, K. Optimising ankle sprain prevention: a critical review and practical appraisal of the literature. British journal of sports medicine, v. 44, n. 15, p. 1082-1088, 2010.

4- MARTIN, Robroy L. et al. Ankle stability and movement coordination impairments: ankle ligament sprains: clinical practice guidelines linked to the international classification of functioning, disability and health from the orthopaedic section of the American Physical Therapy Association. Journal of Orthopaedic & Sports Physical Therapy, v. 43, n. 9, p. A1-A40, 2013.

5- VUURBERG, Gwendolyn et al. Diagnosis, treatment and prevention of ankle sprains: update of an evidence-based clinical guideline. British journal of sports medicine, v. 52, n. 15, p. 956-956, 2018.

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