Publicado em 29.04.2020 - Categoria:
Esporte,
Fisioterapia,
Saúde
Dor no joelho. Saiba como se livrar!
Dor anterior no joelho do atleta de basquete é um dos motivos mais comuns pelos quais as pessoas ativas procuram assistência médica. Um estudo de Drakos em 2010 que acompanhou lesões de 17 anos da NBA mostrou que 11,9% das lesões dos atletas profissionais eram dor anterior no joelho, além disso, esta lesão foi um dos fatores que mais afastaram jogadores dos jogos (17,5%) (1).
Normalmente, essa dor anterior no joelho está associada a síndrome patelofemoral e/ou tendinopatia patelar (2).
A dor patelofemoral é uma condição musculoesquelética comum, caracterizada por início insidioso de tipo de dor mal definida, localizada no polo inferior da patela anteriormente ou envolta da patela (3).
Tendinopatia é uma condição onde a matrix tecidual do tendão está desorganizada e fragilizada, apesar da dor no tendão, nesta patologia, este não sofre de um processo inflamatório, logo medidas anti-inflamatórias não tem efeito ou possuem efeitos somente placebos sob esta patologia.
Fatores de Risco:
Vários fatores estão correlacionados a dor anterior do joelho, o conhecimento desses fatores é importante para a elaboração de trabalhos preventivos mais assertivos (3).
- 1) Fraqueza na força do quadríceps. Um fator importante é que dor na região do joelho provoca uma diminuição na ativação da musa ultra anterior da coxa, esse fenômeno se chama inibição artrogênica. Ou seja, se voce está treinando basquete ou realizando um exercício de musculação para a coxa e está sentindo dor durante a execução dos movimentos, ha possibilidade de voce estar se prejudicando ao invés de se ajudar. Já que apesar de estar fazendo um exercício que ativa o quadriceps, este não esta com o funcional adequado devido a inibição artrogênica, logo sobrecarregando ainda mais as estruturas articulares do joelho.
- 2) Fraqueza da musculatura do quadril (principalmente glúteos), esta região é muito importante já que a baixa estabilidade do quadril interfere na mecânica de movimentos corretos do joelhos, assim como em todo membro inferior.
- 3) Flexibilidade reduzida dos quadríceps, IQT e gastrocnêmios. O interessante nesta afirmação é o fato que devemos melhorar a mobilidade não somente da cadeia posterior mas também da cadeia muscular anterior.
- 4) Alterações biomecânicas de tronco e quadril. A região lombar-pelve-quadril é o epicentro para o equilíbrio nos movimentos, se existir alterações do padrão de movimento e estabilização nestas regiões, esta alteração desencadeará alterações no movimentos em regiões adjacentes. O treino adequado da musculatura do CORE se faz de extrema importância não somente para tratamento mas também para a prevenção desta lesão. Porém, deve-se saber executar este tipo de exercícios com sabedoria e qualidade para não causar lesões na região lombar. http://viniciuscastrocampos.com.br/costas-felizes-vida-feliz/
- 5) Baixa mobilidade de tornozelo. Já citamos em outras postagens a importância de se ter uma boa mobilidade de dorsifleêxao de tornozelo, além de mostrarmos como melhorar esta mobilidade.Veja mais no link: http://viniciuscastrocampos.com.br/cuide-bem-do-seu-pe/
Prevenção/ Tratamento:
Lesões no joelho podem colocar um atleta no banco de reservas por uma temporada inteira ou até mais. As evidências científicas apoiam fortemente a implementação de programas de prevenção de lesões no joelho antes do treinamento esportivo ou jogos. Programas eficazes na prevenção de lesões incluem uma combinação de alongamentos dinâmicos (flexibilidade e mobilidade), exercícios de corrida, treinamento de força (ativação muscular específica), força do CORE e exercícios pliométricos. Os atletas devem concluir esses programas várias vezes por semana, com cada sessão com duração de pelo menos 20 minutos (4).

(A)alongamentos dinâmicos ou exercícios de flexibilidade para o quadríceps, isquiotibiais, adutores do quadril, flexores do quadril e músculos da panturrilha;
(B) exercícios de corrida para frente e para trás, em zigue-zague;
(C) treinamento de força, como agachamentos bi e unipodal,
(D) exercícios de força do CORE, como pranchas e pontes;
(E) exercícios pliométricos, como salto de uma perna para frente e para trás e exercícios esportivos específicos.
Para aqueles com dor anterior no joelho, a boa notícia é que existem muitos tratamentos potencialmente eficazes (3).
- Se você tiver movimento alterado da patela, tape elástico ou bandagem rígida podem diminuir temporariamente a dor.

Exemplo de bandagem elástica para o joelho.
- O fortalecimento dos músculos do quadríceps e do quadril pode ajudar a diminuir a carga e a pressão no joelho. O treino de cadeia cinética aberta (CCA) ou cadeia cinética fechada (CCF) por 6 semanas, apresentam resultados favoráveis na diminuição de dor patelofemoral com leve tendência para priorizar os exercícios em CCF. Interessante reportar que melhores resultados em treinos de volume alto (3×30 reps sem dor) comparados com os de volume baixo (3×10 reps).

Exemplo de exercício para quadríceps em CCA

Exemplo de exercício para quadríceps em CCF
- A combinação de exercícios de quadril e joelho é preferida através de exercícios direcionados apenas para joelhos na otimização dos resultados em pacientes com dor.
- Melhorar a biomecânica dos movimentos também pode diminuir a dor. Por isso, a importância de uma boa avaliação Funcional para se detectar esses pontos de alteração e criar um trabalho preventivo adequado.http://viniciuscastrocampos.com.br/crossfit-bom-ou-ruim/
- Atletas que aumentam não apenas a magnitude da carga, mas também a frequência da carga de maneira inadequada, com pouco tempo de recuperação para o tecido, apresentam um alto risco de desenvolver dor patelofemoral. Um motivo bem conhecido pelo qual as pessoas se machucam praticando esportes é o desequilíbrio entre a capacidade do corpo e a carga de treinamento (capacidade x demanda). De acordo com o estudo de Gabbett em 2015 (5), quando a carga de treinamento era razoavelmente constante (variando entre 5% a 10% do que na semana anterior), os jogadores apresentavam <10% de risco de lesão. No entanto, quando a carga de treinamento foi aumentada ≥ 15% acima da carga da semana anterior, o risco de lesão aumentou para 21% a 49%. Então, para minimizar o risco de lesões, não apenas treine duro, mas também inteligente. Mais uma vez, se torna importante uma boa periodização e um acompanhamento de profissionais capacitados para não ocorrer erros e excessos de treinamentos.

Mílo de Croton (atleta Grego) – uma das descrições mais antigas de um treinamento com cargas crescentes (carga evolutiva gradualmente)
- Por fim, palmilhas podem ajudar a diminuir a pressão sob a patela.
Os programas de treinamento e prevenção devem ser personalizados para atender às demandas associadas ao esporte ou atividade atlética específica, por isso, recomenda-se um exame Funcional minucioso para entender melhor a causa da dor no joelho e desenvolver um programa de tratamento mais eficaz.
Referências:
- DRAKOS, Mark C. et al. Injury in the National Basketball Association: a 17-year overview. Sports health, v. 2, n. 4, p. 284-290, 2010.
- COOK, J. L. et al. Patellar tendinopathy in junior basketball players: a controlled clinical and ultrasonographic study of 268 patellar tendons in players aged 14–18 years. Scandinavian journal of medicine & science in sports, v. 10, n. 4, p. 216-220, 2000.
- WILLY, Richard W. et al. Patellofemoral pain: Clinical practice guidelines linked to the international classification of functioning, disability and health from the Academy of Orthopaedic Physical Therapy of the American Physical Therapy Association. Journal of Orthopaedic & Sports Physical Therapy, v. 49, n. 9, p. CPG1-CPG95, 2019.
- ARUNDALE, Amelia JH et al. Exercise-based knee and anterior cruciate ligament injury prevention: clinical practice guidelines linked to the international classification of functioning, disability and health from the academy of orthopaedic physical therapy and the American Academy of sports physical therapy. Journal of Orthopaedic & Sports Physical Therapy, v. 48, n. 9, p. A1-A42, 2018.
- GABBETT, Tim J. The training—injury prevention paradox: should athletes be training smarter and harder?. Br J Sports Med, v. 50, n. 5, p. 273-280, 2016.