Este período de Isolamento Social faz com que muitos atletas diminuam drasticamente suas atividades físicas, seja por meio da diminuição da quantidade de vezes que treina na semana ou diminuindo a intensidade dos treinos.
De qualquer maneira, ambas diminuem a carga de treinamento, já que essa é influenciada tanto pelo volume como pela percepção de esforço do atleta.
CT = volume do treino (em minuto) x percepção de esforço pelo atleta (escala de Borg 0 a 10)
Apesar de pausas nos treinos serem bem-vindas para descansarmos http://viniciuscastrocampos.com.br/durma-bem-treine-melhor/, é preciso tomar cuidado com a volta. Já que um retorno abrupto ou sem controle de carga pode ser um fator importante para o aparecimento de lesões nesse período.
Por exemplo, em 2011 a NFL (National Football League – Liga de Futebol Americano) ficou em greve de 11 de Março até 25 de Julho, os atletas nesse período não podiam ter acesso aos seus clubes e realizam os treinamentos de maneira individual (1). Esse período de greve diminuiu 14 semanas da fase de treinamento pré-temporada, deixando a fase de treinamento bem mais reduzida e corrida, muito parecida com o que deve acontecer pós este momento de Isolamento Social.
Nessa temporada da greve, houve um aumento absurdo de rupturas do Tendão de Aquiles (10 rupturas nas 2 semanas de treinamento pós-greve). Para se ter uma ideia, dados de um relatório cobrindo 9 temporadas da NFL (1997 a 2002) indicaram uma média de 5 rupturas no tendão de Aquiles por ano (1).
Esse período na NFL é um bom exemplo, mostrando por que é importante manter o treinamento certo e adequado durante a quarentena (força, pliometria, sprints etc.) e por que se faz essencial aumentar progressivamente a carga de trabalho do treinamento durante o período de retorno dos treinos nos clubes/equipes.
Essa progressão de retorno ao treinamento pode ser calculada usando as informações sugeridas pelo Australian Institute of Sport (AIS). AIS ilustra muito bem esse ponto, se um atleta treina a 60% da sua carga de treino normal por 8 semanas, leva quase 37 dias para retornar PROGRESSIVAMENTE à carga total de treinamento. É o retorno progressivo que possibilita reduzir o risco de lesões. Obviamente, pausas mais longas ou mais completas no treinamento exigirão um retorno ainda mais mais longo (2).
Se o atleta ficar parado (treino 0%) por 4 semanas, este levaria um período de 5.7 semanas para poder voltar a treinar 100%. Isto significa que durante essas quase 6 semanas o atleta deverá realizar uma progressão de seu treino de maneira a atingir 100% (treino que estava fazendo antes de parar). Lógico que quanto maior for a interrupção do treinos e quanto maior for a diminuição da carga dos treinos neste período de Isolamento Social, maior será o tempo necessário de progressão de treinamento para se atingir os 100%.
Mais uma vez, a má gestão das cargas de treinamento durante o período de retorno pode levar a um aumento do surgimento de lesões, ou seja, quando voltar, não tente correr atrás do prejuízo de maneira descontrolada. Tome o tempo necessário e controle de maneira progressiva seu volume e intensidade de treinos para evitar lesões.
1-MYER, Gregory D. et al. Did the NFL lockout expose the Achilles heel of competitive sports?. 2011.
2-Considerations of training load in relation to loading and unloading phases of training. Available from: https://ais.gov.au/__data/assets/pdf_file/0003/734835/Considerations-of-training-load.pdf [Accessed 29 May 2020]