Publicado em 11.12.2018 - Categoria: Esporte, Fisioterapia

Crossfit Bom ou Ruim?

Crossfit bom ou Ruim? Você já deve ter ouvido falar muitas coisas sobre o CrossFit®, uma delas, que esse esporte é perigoso e tem alta incidência de lesão.

Então, deixe-me perguntar algo: – Cair de bicicleta torna andar de bike um esporte perigoso?

É claro que o CrossFit® por ser um esporte de alta intensidade faz com que os praticantes estejam sujeitos a lesões. De acordo com uma recente tese de mestrado defendida na Escola de Medicina da Universidade Federal de SP (UNIFESP), a incidência de lesões nesse esporte é de 23,7 por 1000 horas de treinamento1. Só para se ter uma ideia: em um estudo de 2015, avaliou-se as lesões de um time de Futebol Brasileiro da Primeira Divisão, foi encontrado uma incidência de lesões de 42,84  por 1000 horas em partidas e 2,40  por 1000 horas em treinamento2. Esses dados evidenciam uma aproximação da incidência de lesões do praticante de CrossFit® ao do Futebol profissional, afinal de contas são dois esportes de alta intensidade e complexidade de movimentos.

O fato de o CrossFit® associar alta intensidade a exercícios complexos faz com que seus praticantes estejam sujeitos a se lesionarem caso não estejam preparados para o treino ou estejam executando um movimento de maneira incorreta3. Isso seria o mesmo que alguém que acabou de aprender a andar de bicicleta participar de uma prova de “mountain-bike”, ou seja, as chances de acontecer algum incidente é grande!

Movimento Incorreto

Executar um movimento de maneira incorreta faz com que o sistema músculo-esquelético gaste muito mais energia, pois o movimento incorreto altera o padrão de ativação muscular, hiperativando certos músculos, o que consequentemente provoca neles um aumento do gasto energético para executar um gestual esportivo. O excesso de energia gasta para realizar uma tarefa gera uma fadiga muscular excessiva, o que, concomitantemente, leva a uma piora ainda maior no padrão de movimento, já que um músculo cansado (fadigado) não consegue sustentar um movimento correto, resultando em lesão.

Qualidade de Movimento

O que deve ser levado em consideração que nem sempre o local da dor é o fator causal da lesão. Por exemplo, um atleta que apresenta dor no ombro durante um “overhead squat” (agachamento com a barra sobre a cabeça), comumente acredita que seu ombro está fraco ou instável e para melhorá-lo realiza vários exercícios para o  ombro, contudo, esse ombro pode estar simplesmente recebendo uma carga de maneira desequilibrada.

Um dos fatores que podem causar esse tipo de mal posicionamento da barra é a redução da mobilidade do tornozelo (vide http://viniciuscastrocampos.com.br/cuide-bem-do-seu-pe/), provocando um desvio pélvico e deslocando o peso para o lado oposto, o que, por sua vez, desnivela a barra. Logo, a correção dessa lesão não deve partir pelo treinamento da força e/ou estabilidade do ombro, mas sim pela melhora da mobilidade do tornozelo (“Move better, Live Well” – Vinicius Castro Campos).

Avaliação da Qualidade de Movimento

Por isso, a melhor estratégia é fazer uma avaliação específica do padrão de movimento corporal/esportivo para assim elaborar um programa de exercícios corretivos, que vise à reabilitação do fator causal da lesão, prevenção, e, com isso, o aprimoramento do desempenho físico. O foco na correção de padrões incorretos de movimento diminui o estresse imposto ao corpo durante as atividades físicas. O resultado final da implementação e aderência a um programa corretivo/preventivo é menor probabilidade de lesões, maior carga horária disponível para o treinamento e, consequentemente, melhor desempenho.

Preventivo/ Exercícios Corretivos atleta CrossFit

 

Melhor Técnica – Menos chances de se lesionar

Nessa mesma tese de mestrado supracitada, relata-se que atletas com experiência maior que um  ano apresentaram redução do risco de lesão. Esse dado pode ser interpretado da seguinte maneira,  tanto  uma melhor adaptação às cargas, como  o  desenvolvimento de uma técnica  mais  apurada  dos  praticantes  mais  experientes (> 1  ano) pode ser o fator que contribui para  a redução do risco de  lesão1.

Um outro fator que pode levar ao aparecimento de lesão é o uso incorreto das cargas de treino. Quando falamos em treinar inteligente, significa, treinar com carga ótima, ou seja, carga que seu corpo consiga realizar os gestos com um padrão de movimento correto, ainda mais com os movimentos complexos realizados em um treino de CrossFit®. Entretanto, é importante ressaltar que podemos e devemos progredir as cargas dos treinos e para isso basta aumentar de maneira progressiva. Vale ressaltar que o  termo carga deve ser interpretado de um forma mais ampla,  englobando  tanto  a  variação  dos  pesos  quanto  o  número  de  repetições  a  serem  executadas  para aquele exercício4.

Excesso de peso promovendo qualidade ruim de movimento

– Não deixe que o treinamento se torne um problema para você, cuide do corpo o mais rápido possível e evite problemas maiores.

Referência Bibliográfica
  1. Paulo Roberto de Queiroz Szeles. Incidência de Lesões Musculoesqueléticas e Fatores de Risco em Praticantes de Crossfit®: Um Estudo Prospectivo (Dissertação apresentada à Universidade  Federal  de  São  Paulo  – Escola  Paulista  de  Medicina,  para obtenção  do  Título  de  Mestre Profissional  em  Ciências  da  Saúde Aplicada  ao  Esporte  e  à  Atividade Física) 2018
  2. REIS, Guilherme F. et al . Sports injuries profile of a first division Brazilian soccer team: a descriptive cohort study. Braz. J. Phys. Ther.,  São Carlos ,  v. 19, n. 5, p. 390-397,  Oct.  2015.
  3. Claudino, João Gustavo et al. “CrossFit Overview: Systematic Review and Meta-Analysis.” Sports Medicine – Open 4 (2018): 11. PMC. Web. 25 Sept. 2018.
  4. Gabbett, Tim J. “The Training—injury Prevention Paradox: Should Athletes Be Training Smarter and Harder?” British Journal of Sports Medicine 50.5 (2016): 273–280. PMC. Web. 1 Oct. 2018.

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